quinta-feira, 31 de maio de 2007

(Ir)Realidades


Depois de uma longa noite de sono, abri um olho. Depois outro. Ainda me sentindo lá, já estava cá. Mas lá onde? Vagamente me lembro que andava pelo fundo do mar. A vida tinha passado para lá. Coisa estranha. Pouco mais me recordo. De tão longe que vim, não diria que fosse possível já cá estar. Estiquei uma perna e depois outra. Voltei a sentir-me em mim. Fechei novamente os olhos. Sim, estive mesmo no fundo do mar. Havia casas por lá, parece que se tinham invertido os locais. A vida agora era lá. Abri novamente só uma das minhas janelas. Confirmei a realidade. Mas qual delas? Juraria que aquela vida também era real. Parecia. Ao abrir o outro olho, acordei para a outra realidade. Para esta. Voltei a ser eu. Entao, mas lá eu não era eu?? Boa pergunta. Mas parece que já tinha mesmo chegado. Os braços tinham parado de nadar. Do estor semi corrido tinham sobrado pequenas frestas por onde a luz se infiltrava. Tal como lá, a luz também se infiltrava. Por cá entra deleitando-se na parede e formando um picotado inconfundível. Lá também nos iluminava com toda a sua força. Mas agora estava definitivamente cá. A luz que entrava no meu quarto chegava para me começar a convencer que acabara o sonho e com ele o descanso. Confesso que logo de manhã a minha teimosia dá tréguas e rendo-me à evidência. Tem que ser, e o tem que ser tem muita força. Aos poucos senti que a máquina se foi activando, a corrente que me percorre ia ganhando força. Confirmei que o que respirava era mesmo ar e qualquer semelhança com um peixinho seria puro sonho. Activei-me fisicamente. Psiquicamente demorou mais um tempo. Parece que primeiro temos que nos esquecer da outra realidade e só depois estamos oficialmente acordados e regressados. Por onde andei, nadei, voeei, corri já não me lembro. Devo ter feito "trinta por uma linha"!! Mas regressei. Como sempre. Voltei para esta realidade. À outra volto depois. Mas volto. Largo-me para lá onde o meu "eu" me encaminhe. Coisa estranha para onde ele me leva. Não sei para onde, com quem, fazer o quê, como, porquê. Não interessa, só sei mesmo que vou. E quero.

2 comentários:

Nuno P. disse...

É tão tenue a barreira entre a realidade e a "irrealidade". São momentos que poem em causa as leis da fisica que regem o mundo para lá dos sonhos, contudo os mundo dos sonhos pode ser tão "real" como a realidade.
Os sonhos são manifestações dos nossos mais profundos desejos, por isso é bom sonhar acordado, ou enquanto descansamos... Não deixes de voar, nadar, correr, gritar, de te espandires enquanto descansas... O segredo da juventude está em ter mais sonhos que recordações...

Bjos grandes

Nuno P.

Cláudia disse...

Adorei este relato.Já te disse que gosto do que escreves e como escreves. Eu adoro o mundo dos sonhos e adoro lembrar-me deles.São muito curativos se os souberes interpretar.Frequentemente, é durante os sonhos que recebo mensagens da intuição, do meu eu superior , e alguns até são premonitórios.Quando me é dificil resolver alguma coisa deste lado, peço que me seja dada a oportunidade de a resolver, ou pelo menos entender do outro, e de facto, faz-se luz. Por isso entendo quando dizes" só sei que vou... e quero." bjo grande.